terça-feira, 25 de outubro de 2011

O PROÉMIO

          As éguas, que me transportam, tão longe quanto o meu coração alguma vez podia almejar, rapidamente me conduziram, depois de me terem levado e colocado no afamado caminho do deus, que conduz o homem sabedor por todas as cidades. Por esta estrada fui eu levado, por este caminho os sensatos animais me transportaram, puxando o carro, e donzelas me guiavam. E o eixo, levado ao rubro, nos cubos soltava o silvo de uma siringe, pois de ambos os lados com força era impelido pelas duas bem torneadas rodas, enquanto as filhas do Sol se apressavam por levar-me para a luz, depois de abandonarem a morada da Noite e de com as suas mãos terem retirado os véus das cabeças.
          Aí se encontram os portões dos caminhos da Noite e do Dia, encimados por um lintel e com pétrea soleira. Eles mesmos, bem altos no ar, são fechados por grandes batentes, e a Justiça vingadora empunha os ferollhos alternados. A ela seduziram as donzelas com brandas palavras e habilmente a persuadiram a retirar rapidamente a tranca aferrolhada dos portões. E, ao escancararem-se, fazendo, cada um por sua vez, girar nas chumaceiras os gonzos de bronze, ajustados com pregos e cavidades, mostraram um abismo hiante, na moldura da porta. Directamente, através deles, no amplo caminho, as donzelas guiaram os cavalos e o carro.
          E a deusa acolheu-me afavelmente, tomou-me a dextra na sua e dirigiu-se-me com estas palavras: «Ó jovem, tu que vieste à minha morada na companhia de aurigas imortais, com corcéis que te transportam, salve. Não foi uma má sorte que te impeliu a percorrer este caminho ̣- pois bem longe ele fica do trilho dos homens -, mas o Direito e a Justiça. Convém que tudo aprendas, tanto o ânimo inabalável da rotunda verdade, como as opiniões dos mortais, em que não há verdadeira confiança. Todavia, aprenderás isto também, como aquilo em que se acredita deve sê-lo sem qualquer dúvida, fazendo passar todas as coisas através de tudo.


Parménides de Eleia frag.288 Fr.1 (Sexto adv. math. VII, 3 (versos 1-30); Simplicio de Caelo 557, 25 e ss. (versos 28-32)
retirado do livro: Os Filósofos pré-Socráticos de Kirk, Raven, Schofield editora Fundação Calouste Gulbenkian

2 comentários:

  1. Gostei! :D Viva o nosso curso! <3 (^_^)*

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  2. O Blog está lindo! E o calendário vai dar um jeito que nem imaginas (razão: faço parte do grupo dos super hiper mega desorganizados que nunca sabe a data dos testes e trabalhos, ou se sabe, se esquece sempre) xD

    Os aprendizes de filósofos U.M. já têm um cantinho nas internets à maneira, blog+fórum=big bang de ideias :D

    viva filosofia, yey!

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